O TRIGO ESTÁ EM TODAS AS MESAS
Carlos Franco
Não tem como negar, o trigo faz parte de nossas vidas, desde o pãozinho até as iguarias mais apreciadas no mundo, doces ou salgadas, mas o vilão do glúten, por conta do excesso de amido que pode agravar o volume de açúcar no sangue, fez com que muitos o deixassem de lado na alimentação. Tanto que são inúmeros os produtos hoje onde se lê: não contém glúten. Um problema que passou a ser enfrentado de perto pela ciência que, agora, apresenta uma solução inovadora que deve trazer o trigo de volta para todas as mesas.
Devido aos recentes avanços na genômica e bioinformática do trigo, uma mudança de paradigma, no entanto, está ocorrendo na recuperação desse alimento com potencial para aumentar sua produtividade e causar um impacto significativo na segurança alimentar global. Em descoberta científica marcante, uma equipe de cientistas internacionais sequenciou com sucesso os genomas de 15 variedades do trigo.
Assaf Distelfeld, chefe do Institute of Evolution, da Universidade de Haifa, em Israel, foi membro do 10- Genome Project, uma equipe de 95 cientistas cuja recente conquista foi publicada na Nature. “Há apenas alguns anos, a ideia de sequenciar o genoma do trigo era considerada ficção científica”, explica Distelfeld. “O trigo tem um dos genomas mais complexos – cinco vezes maior que o DNA humano. Nossas descobertas ajudarão a identificar e manipular genes específicos para características úteis, como tolerância à seca, resistência às doenças de culturas ou melhor qualidade de grãos. Saber quais genomas de trigo têm ‘melhor desempenho’ será fundamental no desenvolvimento de variedades mais produtivas e eficientes em recursos desta cultura.”
Os israelenses já conseguem neutralizar inclusive o temido amido presente no trigo. “É o caso do Seitan, um alimento que substitui a proteína animal, feito a partir do trigo e água, em que se retira o amido e se mantém a proteína do glúten. Ele é rico em proteínas e ferro e é bastante utilizado na culinária vegana”, explica a nutricionista Poliana Scarcella.
As novas pesquisas da Universidade de Haifa visam também dar uma resposta ao aumento da população mundial que resultará na maior demanda por esse grão e o estudo em questão é de grande importância ao trazer as bases que possibilitam a produção de grãos mais resistentes às mudanças climáticas, doenças e pragas, com maior qualidade e produção, com menos perdas e em maiores quantidades.
Segundo Poliana, o trigo tem como seu principal componente o carboidrato, fazendo dele um alimento energético que é ideal para o funcionamento do organismo. “Alguns alimentos à base de trigo podem ser utilizados como fonte de proteína”, diz.
A nutricionista também ressalta que a produção de proteína animal contribui com a emissão de gases de efeito estufa, faz uso intenso de recursos hídricos e de grandes extensões de terra com impacto na biodiversidade. “A diminuição do consumo de carne e aumento do uso de opções ricas em proteína de origem vegetal, como é o caso do Seitan, podem garantir a segurança alimentar e nutricional das populações atuais e para as futuras gerações”, concluiu a nutricionista.
É o retorno do trigo às mesas. Quem viver verá.