O ENCANTO DAS CANÇÕES QUE VOCÊ DANÇOU PRA MIM
Carlos Franco
No passo e no compasso da dança e das canções de Roberto Carlos, a Cia de Dança Focus sob a direção do coreógrafo Alex Neoral encantou ontem o público que compareceu ao Teatro Municipal de Uberlândia, onde se apresenta novamente hoje às 19 horas.
Passeando por 72 canções na voz do “rei” Roberto Carlos, quatro casais dão uma aula de como o corpo expressa nossas emoções para além do horizonte. Do Iê-iê-iê às canções românticas que embalaram a vida dos brasileiros, o público com a potente força da empatia dos bailarinos ingressa no que podemos chamar de um túnel do tempo.
Com uma carreira de mais de seis décadas, o rei, nasceu em Cachoeiro de Itapemirim em 1941 e iniciou sua carreira na década seguinte nos embalos da Jovem Guarda, o movimento cultural que revolucionou a música brasileira ao incorporar elementos do rock’n’roll norte-americano de Elvis Presley e do pop internacional, que trouxe para o português a bordo de um calhambeque. Com essas inovações, Roberto Carlos ajudou a definir o som e o estilo de uma geração, com músicas de tema universais.
Com o passar das décadas, como numa coreografia que a Cia Focus coloca em cena, Roberto Carlos evoluiu artisticamente, explorando diferentes gêneros e mantendo-se relevante em um cenário musical em constante transformação. Suas baladas românticas, como “Detalhes”, “Amigo”, “Emoções” e “Caminhoneiro”, tornaram-se clássicos, cantados e relembrados por pessoas de todas as idades.
A evolução da sua voz suave e emotiva, que o público poderá notar e apreciar em “As canções que você dançou pra mim, pois Alex Neoral faz uso das músicas originais, aquelas dos tempos do vinil que tocava nas vitrolas dos lares brasileiros e nas rádios, é o fio condutor deste espetáculo, ainda que entrecortadas, mas unindo palavras que se repetem nas letras das canções.
Assim como Roberto Carlos, os bailarinos, dentro do espectro da dança contemporânea, procuram conduzir o público para o universo dos passos e compassos, ainda que muitos deles desassociados daquele que ouve em relação aquilo que se vê no palco. Com figurinos em tons de azul, a cor predileta do rei, os bailarinos exalam empatia. Sequer deixa de lado as rosas vermelhas entregues ao público e que se tornou uma assinatura das apresentações do rei que segue na estrada. Exatamente como este espetáculo que, com o apoio da Petrobrás, inicia por Uberlândia a sua temporada em Minas Gerais depois de conquistar prêmios de crítica e público em 2014 quando estreou o espetáculo.
Com a força da contribuição musical de Roberto Carlos que desempenhou um papel importante na construção da identidade cultural do Brasil, a Cia de Dança Focus não perdeu o ritmo dessas canções que uniram pessoas de diferentes regiões, classes sociais e idades.
É importante observar que Roberto Carlos se tornou um símbolo de esperança, amor e superação, especialmente em momentos difíceis da história brasileira, como durante a brutal ditadura militar que nasceu do golpe de 1964, mergulhando o país no atraso de uma noite que parecia não ter fim. No período dos chamados anos de chumbo que nasceu do AI-5, o rei oferecia um refúgio emocional e um senso de normalidade em contraste com os porões da ditadura onde verdadeiros brasileiros como Rubens Paiva (o personagem tema do premiado filme “Ainda estou aqui”) eram torturados e assassinados por defenderem justamente os interesses do Brasil em oposição à uma elite usurpadora que encontrou nos militares os seus legítimos cães de guarda.
Mas o que importa aqui é a beleza e suavidade do espetáculo. Impossível não sair do Teatro Municipal após assistir à apresentação da Cia de Dança Focus pisando nas nuvens após um mergulho suave e lúdico no túnel do tempo que nos une enquanto brasileiros.
Um espetáculo, portanto, imperdível e que integra a programação do bem-sucedido projeto Uberlândia na Rota das Culturas. Muito bom ver também a Petrobrás na estrada com a Cia de Dança Focus levando arte e momentos únicos ao respeitável público.
