A FORÇA E A RAÇA DO POVO CIGANO E DO SAPATEADO

Carlos Franco
O povo cigano vive há séculos uma diáspora marcada pelo preconceito e a desconfiança, mas manteve-se firme na defesa de seus valores culturais, entre os quais a dança, a música, o artesanato (com destaque para cobre e ouro) e os jogos de adivinhação (como as cartas e a leitura das mãos). É esse vigor do povo romani (ciganos na linguagem popular do país, onde predominam os grupos Rom, Calon e Sinti) que subiu ao palco do Teatro Municipal de Uberlândia na última terça-feira dentro da programação e mostra competitiva do 31º Festival de Dança do Triângulo para o palco do Teatro Municipal de Uberlândia.
É de Minas Gerais inclusive o único descendente do povo cigano a ocupar a Presidência da República: Juscelino Kubistchek de Oliveira, o JK, conhecido pé de valsa, criador de Brasília e vítima da perseguição da ditadura militar que chegou ao poder no Brasil por meio de golpe contra a democracia em 1964 e que implantou uma longa noite de horrores que só terminou em 1985 com o retorno do país à democracia.
Além do vigor da dança e das canções ciganas, o palco do Teatro Municipal também recebeu grupos de sapateado. Modalidade que surgiu na Irlanda no século V, com camponeses que usavam sapatos de madeira para se proteger do frio e começaram a brincar com os sons produzidos pelos pés. A prática evoluiu para o Irish Jig. Posteriormente, com a Revolução Industrial, a dança chegou à Inglaterra, onde operários usavam sapatos de madeira para se proteger do chão quente das fábricas e desenvolveram novos ritmos nos intervalos. O sapateado americano, como conhecemos hoje, surgiu nos Estados Unidos, com a mistura do Irish Jig e das danças percussivas africanas, incorporando movimentos corporais e ritmos sincopados.
No Brasil, onde os ritmos africanos deram origem ao samba, temos uma musicalidade mais vibrante nos pés e uma maior malemolência. Nada a ver com os enlatados com os quais os americanos sempre sonharam conquistar ao mundo, impondo a cultura que nunca tiveram é que fruto justamente da miscigenação. Valeu Mãe Africa.
São esses ritmos e essas companhias que competem e que caberá aos jurados escolher os campeões da dança desta edição.